quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Santa Tekla - Primeira Mártir

Santa Tekla nasceu na cidade de Egonia. Filha de pais pagãos, aos 18 anos de idade chamava atenção de todos por sua beleza extraordinária.
Pelo ano 45 da era cristã, o apóstolo Paulo já havia iniciado sua primeira viajem para a qual havia sido destinado, pregando a adoração a Deus e a adoção do Santo Evangelho.
Em caminho à Grécia, o Apóstolo passou pela cidade de Egonia e ao entrar em um templo encontrou estátuas sobre as quais estavam escritos nomes de deuses, tais como: “O Deus Desconhecido, O Deus do Conhecimento, O Deus da Beleza, O Deus da Filosofia...
Parecia que essa gente sabia que algo lhes faltava. Então movido pelo entusiasmo que emana a fé, falou em voz alta e firme: “Oh meus irmãos, esse Deus que vocês desconhecem eu os digo: é o criador do céu, da terra, dos mares, da órbita e de seus habitantes. O Deus que ao pedirdes é atendido e ao procurardes encontram, porém estátuas feitas pelos homens podem quebrar e serem reconstruídas quando assim desejamos. Mas o Deus verdadeiro é o que nos criou a sua imagem e semelhança.”
Paulo divulgava o culto a Deus e ensinava a fé cristã, ensinando as pessoas a rezar, a pureza e o amor ao próximo. Naquele momento, Santa Tekla se encontrava sentada diante da janela da sua casa que dava para o lugar onde Paulo fazia suas pregações. Sem sair do lugar, ela ficava escutando admirada, prestava tanta atenção que não se lembrava nem de comer, coisa que incomodava muito a sua mãe. Ao perceber seu estado crítico convenceu o seu esposo, que a era o governador da cidade, para que ele tentasse convencer a menina, fazê-la repensar suas atitudes e retornar a sua religião.
Seu pai então foi conversar com ela para convencê-la:
“Porque está fazendo isso, minha filha? Quem é esse homem que esta escutando e que diz tantas palavras sem fundamento? Nossa religião pagã é uma tradição de nossos ancestrais e não podemos mudá-la. Recupere o seu juízo e deixe esse homem que diz o que quer.”
Ela sem demora tentou convencê-lo e com palavras firmes disse:
“Oh pai, nossa religião está quase desaparecendo, pois precisa de princípios, nós mesmos fazemos as estatuas com as próprias mãos e quebramos quando queremos, já o Deus de Paulo é o Deus verdadeiro, é o todo poderoso criador do Universo, nós somos seus filhos, o que nós pedimos a Ele nos atende sempre e sem demora. Essas estátuas de pedra, sólidas, sem alma e sem espírito, não vêem , não olham, nem se movem.”
Ao escutar suas palavras, sua mãe se enraiveceu e gritou ao marido, que era o governador:
“Queima essa hipócrita na frente de todo mundo, para que sirva de exemplo para as moças que quiserem imitá-la”.
O governador decretou então que Tekla seria queimada. Então uma multidão de gente se reuniu para ver o espetáculo. Preparada a fogueira a jovem, semelhante a uma doce ovelha que busca seu Pastor, fez o sinal da cruz sobre o fogo e com alta voz gritou:
“Oh Deus de Paulo, acolhe a alma de sua escrava, ansiosa de estar ao seu lado.”
De repente o céu ficou nublado, raios começaram a cair e em seguida uma forte chuva tomou conta do lugar apagando a fogueira. Quando passou a tempestade, Tekla olhou ao redor, mas não encontrou a multidão que lá se encontrava, pois fugiu de medo. Santa Tekla saiu correndo e se escondeu na casa de seu vizinho, onde Paulo fazia suas pregações e onde a esposa e filhos rezavam por sua salvação. Paulo partiu em direção à Antioquia e à Síria deixando Santa Tekla debaixo da proteção de Deus.
O governador, com muita raiva, mandou que seus soldados a levassem para dentro da jaula dos leões que ficava perto das muralhas da cidade. Ao entrar na jaula uma forte luz resplandeceu e as feras selvagens se transformaram em animais dóceis e se prostraram aos pés de Santa Tekla, lhe fazendo reverência. Toda multidão se assombrou com o ocorrido e muitos passaram a crer no Deus de Santa Tekla. Mesmo assim os soldados não desistiram de matar a santa. Jogaram-na dentro de um quarto cheio de répteis venenosos com a esperança que eles a matassem. Mas os répteis começaram a sair do quarto gentilmente deixando Santa Tekla em paz. Todos ficaram ainda mais perplexos com o milagre. Mas o governador, que cada vez mais se enfurecia, disse então que iria decaptá-la.
Então Santa Tecla foi levada a Antioquia, pois sua história já tinha se espalhado por todas as regiões vizinhas. Foi levada a frente do governador que ao vê-la teve compaixão e perguntou-lhe quem ela era, qual era sua história.
“Eu ouvi dizer que nem a fogueira, nem as feras e nem as serpentes puderam lhe causar algum dano.”
Então Santa Tekla lhe respondeu:
“Sou a escrava de Deus imortal e quanto a minha história, eu creio em Jesus Cristo e Sua poderosa Cruz.”
Ela continuou pregando ao governador com as palavras que São Paulo dizia. Imediatamente o governador proclamou sua fé em Deus todo Poderoso. Ele se levantou na frente de todos e disse:
“Esta é Santa Tekla, a servidora de Deus. Ela terá uma liberdade absoluta e nenhum mal lhe atingirá.”
Tekla então, muito alegre, prosseguiu pregando nos lugares por onde passava, em seu caminho, em direção até a Síria, onde se encontrava Paulo, que havia voltado para Damasco para dar continuidade a sua pregação. Assim, Santa Tekla cruzou o território de Antioquia e entrou no norte da Síria, passando por muitas cidades onde pregou o amor de Deus.
A caminho da região de kalamum encontrou uns lavradores e lhes perguntou o que eles estavam fazendo. Eles responderam que estavam semeando trigo. Então ela olhou para o céu e pediu para que a plantação se transformasse. Então a plantação cresceu, amadurecendo rapidamente ficando pronta para colheita. Enquanto isso os soldados mandados pelo governador continuaram perseguindo Santa Tekla. Encontraram-se com os mesmos semeadores no caminho e lhes perguntaram sobre Santa Tekla. Os semeadores disseram que a viram quando começaram o plantio do trigo. Os soldados ao verem que o milho estava pronto para a colheita tomaram o caminho contrário de Santa Tekla.

Monte Maaloula
A jovem virgem se salvou e atravessando vales e montanhas chegou às ladeiras do Monte Maaloula. Ela já estava muito cansada e vendo aquela altíssima montanha se prostrou de joelhos, levantando as mãos para o céu e implorando a Deus:
“Oh Deus meu, o Senhor que me salvou de feras ferozes, da fogueira ardente e da opressão de meus pais ajuda-me a atravessar essa alta montanha.”
De repente um enorme milagre aconteceu a montanha se abriu provocando um barulho estrondoso, fazendo surgir uma fenda estreita onde a água escorria servindo de passagem para a santa. Esse enorme desfiladeiro se mantém desde o primeiro século da Era cristã e se chama Mar Tekla, que conduz a uma caverna no qual se refugiou a santa, transformando-a em um lugar de hospedagem para a santa, nos pés da colina, onde acontecem as rezas e as adorações para Deus.
Ela se alimentava de plantas silvestres e bebia da água que escorria pelas fendas. Sua presença atraia atenção dos vizinhos, os quais começaram a se reunir para escutar suas pregações, ouvir a Palavra de Deus. Ela lhes ensinava a abandonar a adoração de estátuas e batizava com água aqueles que adotavam a fé cristã e que acreditavam em Deus glorificado. Quanto aos doentes, ela rezava pela salvação deles, lhes dava água benta para beber e assim os curava. Então sua fama se espalhou por toda região, tornando-a conhecida como mãe dos doentes.
Santa Tekla permanecia em sua caverna rezando e jejuando ininterruptamente. Pregava, batizava, curava doentes e fazia milagres até que Deus levou sua alma para perto Dele. Ela se foi no final do primeiro século da era cristã. Seu corpo foi sepultado no Panteão e se mantém na mesma caverna até hoje, com um desenho muito simples, mas que ficou na história como o primeiro templo cristão, agora chamada de igreja, a qual acolhe os peregrinos procedentes de várias partes do mundo. Todos dizem que quem rezar perante sua tumba e beber água da fonte que fica ao lado da sua tumba recebe a bênção para que seu pedido seja atendido. Perante tantos milagres realizados em seu Panteão várias nações pediram para o santuário de Santa Tekla alguns de seus restos mortais para deixarem em seus templos, pois conseguiram muitos milagres por terem ido ao santuário e bebido da água de sua fonte.
Santa Tecla tem sido denominada a primeira mártir por ser a primeira mulher cristã a se submeter à opressão e ao suplício, por ter abraçado a Palavra de Deus. Seu santuário se encontra a nordeste de Damasco, a uns 56 km da capital e é rodeada pela serra do Kalamun, atravessada pela Santa durante sua caminhada. Este povoado tem uma característica única na Síria, pela forma de construção de suas casas cimentadas sobre rochas que se constroem umas em cima das outras. O convento de Santa Tekla, que se encontra neste lugar, é visitado por peregrinos de todas as regiões. Conhecido como Convento Mãe, que acolhe a todos os visitantes sem distinção. Ali se acolhe devotamente os visitantes que têm promessas a cumprir e os peregrinos. Lá acolhem cristãos e muçulmanos que passam por lá antes de irem a Jerusalém.
Hoje em dia o convento é uma comunidade religiosa Ortodoxa que responde ao Centro Patriarcal em Damasco, formado por Monjas que consagram a vida a serviço do convento, atendendo aos visitantes do santuário. Ao lado do sepulcro de Santa Tekla os cristãos construíram um altar para rezar. Existe lá também uma Igreja para celebração da Santa Missa, assim como um museu com objetos de cobre e barro da época. Este convento é considerado como um dos mais importantes santuários cristãos depois de Jerusalém. Recebe visitantes e fiéis procedentes de todas as partes do mundo para rezar e receber bênçãos. Isso ocorre durante todas as estações e dias do ano. Mas nos dias 14 e 24 de setembro o santuário recebe um número muito maior de visitantes, pois se comemora os dias da Cruz e de Santa Tekla, respectivamente.
Depois de conhecer o santuário o que mais chama atenção dos visitantes é o desfiladeiro Mar Tekla. Onde se estende o mais precioso desfiladeiro criado por Deus e que é continuação do Monastério. Mar Tekla é formado por pontas e escavações em diversas dimensões, o que nos leva a meditar longamente e glorificar o Criador. Maaloula foi morada dos santos que a transformaram em centro de pregação. Muitas dessas cavernas existem até hoje, tais como as que foram usadas por Santa Bárbara, São Jorge etc. Isso transforma Maaloula em um importante centro pertencente a uma importante Diocese que existe desde o século XIV ao século XVIII da nossa era. Assim Maaloula e seus componentes constituem provas demonstrativas do grande poderio de Deus, da grandeza do homem sírio, da profunda fé desses homens, do seu amor ao próximo e a Deus.
Por fim, o Monastério conta com um pavilhão especial para a educação das meninas órfãs, cuidadas e educadas por professoras bem capacitadas, que as formam para serem excelentes monjas ao serviço de Deus.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

VIAGEM DO MONSENHOR JOSE RIBAMAR AO PATRIARCA "Sua Santidade Moran Mor Inácio Zakka I"







DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II EM VISITA A Sua Santidade Moran Mor Inácio Zakka I Iwas.


Damasco, 6 de Maio de 2001

Santidade
Beatitudes
Eminências e Excelências
Irmãos e Irmãs em Cristo


1. Ao cair da noite no Dia do Senhor, encontramo-nos reunidos neste lugar sagrado a Catedral sírio-ortodoxa de São Jorge para celebrar a luz inextinguível da Santíssima Trindade. A plenitude da luz do "Senhor Deus, O que é, que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso" (Ap 1, 8) brilha no rosto de Jesus Cristo (cf. 2 Cor 4, 6). Através dele, no Espírito Santo, damos glória a Deus pela sublime herança de fé que é nossa, e pela chamada ao ministério da verdade e da caridade que faz de nós servidores do Evangelho.
O meu coração está repleto de gratidão a Deus porque pude vir a Damasco como peregrino, seguindo os passos de São Paulo. Foi no caminho de Damasco que Jesus Cristo chamou a Si o Apóstolo das Nações; e foi aqui que ele recebeu a luz do Espírito Santo e depois o batismo.
Agora, o Espírito Santo reuniu-nos aqui para esta oração conjunta para ouvirmos a palavra de Deus, implorarmos o seu perdão pelos nossos pecados e divisões, e louvarmos a sua misericórdia infinita. Na paz de Cristo ressuscitado, oremos com uma só alma e um só coração, desejosos de prestar atenção à exortação do grande teólogo e místico sírio Abu al-Faraj, que nos convida a "destruir nas profundezas do nosso coração as raízes de inimizade entre os cristãos" (Livro da Pomba, IV).

2. É com afeto fraternal que saúdo Sua Santidade Moran Mor Inácio Zakka I Iwas, de quem nós somos hóspedes nesta magnífica Catedral. É-me particularmente grato poder retribuir as visitas realizadas a Roma por Vossa Santidade e pelo seu Predecessor Moran Mor Inácio Jacob III.
Contactos recíprocos desta natureza ajudam a alimentar e aprofundar o nosso amor fraternal; corroboram o acordo entre as nossas Igrejas, no que diz respeito à comum profissão de fé no mistério do Verbo encarnado, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; e encorajam-nos a dar ulterior continuidade à cooperação pastoral que iniciamos há 17 anos, mediante a nossa Declaração Conjunta. Santidade, a acentuada abertura ecumênica da vossa Igreja constitui uma fonte de profunda alegria para muitos, assim como um encorajamento a continuar a percorrer com constância o caminho rumo à plena comunhão (cf. Ut unum sint, 62-63). Trata-se de um sinal da vitalidade espiritual e pastoral da sua Igreja, da qual as inúmeras vocações ao sacerdócio e à vida monástica também dão testemunho.
No mesmo vínculo fraternal, saúdo Sua Beatitude o Patriarca Inácio IV e Sua Beatitude o Patriarca Gregório III, bem como os Metropolitas e os Bispos que os acompanham. Dou as boas-vindas aos Patriarcas e Bispos que aqui vieram dos Países vizinhos e agradeço-lhes por terem desejado honrar-nos com a sua presença. Com amor fraterno, saúdo Sua Beatitude o Patriarca Emérito Inácio Moussa Daoud I. Quando o nomeei Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais e o criei Cardeal, desejei não só poder contar com a sua experiência e sabedoria, mas também homenagear as Igrejas do Oriente e, em particular, a Igreja da Síria.
Faço extensivas as minhas saudações aos sacerdotes, monges e monjas, religiosos e religiosas, mas também aos fiéis leigos aqui presentes: sinto-me verdadeiramente feliz por me encontrar no meio de vós!

3. A alegria da Páscoa floresceu no madeiro da Cruz. Aqui em Damasco, numa visão foi dito ao discípulo Ananias que fosse ter com Saulo, perseguidor da Igreja. Apesar das suas dúvidas e temores, Ananias obedeceu ao Senhor e, sem hesitar, dirigiu-se ao inimigo dos cristãos como a um "irmão" (cf. Act 9, 17). Nisto distinguimos duas características essenciais da missão da Igreja: a corajosa obediência à palavra de Deus e o desejo de perdoar e se reconciliar. Quando Deus age, até o impossível se torna possível. A nossa tarefa consiste em dizer "sim" à vontade salvífica de Deus e em aceitar o seu plano misterioso com todo o nosso ser.
Quando Ananias foi ter com ele, Paulo estava a rezar (cf. Act 9, 11). Num certo sentido, estava a preparar-se para receber a missão que o haveria de vincular para sempre à Cruz: "Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome" (Act 9, 16). Eis mais duas características da nossa chamada ao discipulado: oração e perseverança perante as provações. Talvez hoje mais do que nunca, estas sejam as características distintivas da nossa fidelidade a Deus: rezar, carregar a Cruz, obedecer à vontade de Deus e honrar a todos como irmãos ou irmãs. No seguimento desta vereda, caminharemos nos passos de uma "nuvem de testemunhas" (Hb 12, 1), inclusivamente dos inumeráveis monges e monjas que vos precederam nestas terras. Pela Providência divina, todo o Oriente Médio está profundamente assinalado pela cultura do monaquismo sírio e pelo seu testemunho ardente.

4. Aqui em Damasco desejo prestar homenagem a toda a tradição síria, com a sua rica unidade na diversidade. Os Santos Paulo, Inácio de Antioquia, Efrém, João Crisóstomo, Simeão o Estilita, João Damasceno e muitos outros são luminosos mestres para todos nós. Neles, compreendemos que a obediência da fé e do sofrimento da Cruz nunca deixam de dar frutos de salvação.
A maravilhosa criatividade da vossa tradição manifesta-se numa figura como Santo Efrém de Nissa, a "harpa do Espírito Santo", cujas obras foram rapidamente traduzidas em todas as línguas da antiguidade cristã. Oxalá este intercâmbio de dons jamais tenha fim! A minha ardente esperança é a de que os cristãos de toda a parte voltem a abrir os seus corações aos tesouros espirituais e às doutrinais das Igrejas da tradição síria.
No meio da grandiosa plêiade daqueles que seguiram o Cordeiro, encontrava-se um Santo incomparável do vosso País: Simeão o Estilita, que no seu tempo era um ícone vivo de santidade e agora é venerado pela Igreja do mundo inteiro. A sua oração era incessante e a sua caridade universal, pois ele recebia quem quer que viesse ter com ele, de perto e de longe, o maior de todos e o mais insignificante. Ele também trazia no seu corpo as feridas do Senhor crucificado (cf. Teodoreto de Ciro, História Religiosa, 26). Na narração da sua vida, escrita pelos seus discípulos 15 anos após a sua morte, a extraordinária vocação de São Simeão é descrita com os seguintes termos: "Através dos sofrimentos do seu servo, Deus desejava despertar o mundo do seu profundo sono". O mundo contemporâneo tem necessidade de despertar para o amor de Deus e o seu plano salvífico. A leitura do Evangelho exortou-nos: "Erguei os olhos e vede: os campos estão brancos para a ceifa" (Jo 4, 35). A colheita está pronta para a ceifa, porque o coração humano tem sempre fome do "Caminho, da Verdade e da Vida" (cf. Jo 14, 6). Um testemunho mais unido da parte dos cristãos é essencial, se o mundo do terceiro milênio quiser acreditar (cf. Jo 17, 21). Que o Espírito Santo apresse o dia da nossa união completa!
5. No final do nosso breve encontro, faço minhas as palavras pronunciadas pelo Bispo ou sacerdote no fim da divina Liturgia no Rito sírio-ocidental: "Ide em paz, meus amados, enquanto vos confiamos à graça e à misericórdia da santa e gloriosa Trindade... Salvos pela Cruz vitoriosa do Senhor e corroborados pelo selo do santo Baptismo, que a Santíssima Trindade perdoe os vossos pecados, redima as vossas dívidas e conceda a paz às almas dos defuntos". Que todas estas bênçãos desçam sobre vós através da poderosa intercessão dos piedosos Santos e Mártires, e da Santíssima Mãe de Deus, a Theotokos Yoldat Aloho. Amen.

Discurso de boas vindas da S.S. Patriarca Ignatius Zakka I Iwas ao Papa João Paulo II
Catedral Sirian Ortodoxa de São Jorge


Damasco, 6 de maio de 2001

Grande é nossa alegria ter tal acontecimento histórico e significativo, que é a visita de S.S. Papa João Paulo II a Síria, no ensejo deste novo século.

1. Dá-nos grande prazer receber Sua Santidade hoje em nossa Catedral Patriarcal São Jorge em Damasco. Por conta própria e em favor de Suas Graças, os membros Metropolitanos do Sínodo Geral Sagrado de nossa Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e na presença dos líderes das Igrejas irmãs, Suas Beatitudes, os Patriarcas, Suas Eminências, os Metropolitas e todos os Representantes de denominações diferentes com quem nós compartilhamos a alegria de receber Sua Santidade, nós estendemos a Sua Santidade nossas saudosas boas vindas.

2. A Sede Apostólica de Antioquia, foi estabelecido por São Pedro e abençoado pelo Apóstolo Paulo e Barnabé; o descanso dos discípulos e seguidores de nosso Senhor que vieram a Antioquia seguindo o martírio de Santo Estéfano, o mártir e chefe dos diáconos. A Igreja de Antioquia consistiu em crentes no Senhor Jesus Cristo originários de judeus e dos gentios. Os Apóstolos Pedro e Paulo consagraram dois bispos, Santo Inácio para ministrar os crentes de origem judia e para Santo Evodius ministrar os crentes dos gentios.
Depois da morte de Santo Evodius a Igreja de Antioquia de ambos grupos, se consolidou com a liderança de Santo Inácio que a chamou de Igreja Universal.
A Igreja de Antioquia cingiu diversas culturas antigas da Síria, especialmente o aramaico-assírio, a linguagem antiga da Síria que foi falada por Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Santa e abençoada Mãe Maria e Seus Apóstolos que não souberam nenhuma outra linguagem que o aramaico, de acordo com Eusebius o historiador da igreja do quarto século.
Nossa Igreja Sirian de Antioquia ainda conserva a linguagem Sagrada do assírio como sendo a oficial e é a linguagem utilizada na liturgia.
É um fato bem-estabelecido que em Antioquia, estavam os primeiros cristãos, os seguidores de nosso Senhor. Somos agradecidos a Deus e orgulhosos que os pais da nossa Igreja conservaram as antigas raízes históricas da Igreja Sirian de Antioquia e espalha a luz do Evangelho em diferentes regiões no mundo.
Na história recente, o Cristianismo no Oriente e Ocidente, comungam uma só fé. É notável que a Sé Apostólica de: Roma, Alexandria, Antioquia e Constantinopla eram todos unidos em uma fé; e os Pastores destas igrejas que foram entronizados em suas Sés aceitaram-se. O cisma aconteceu depois do Conselho da Calcedônia 451, quando a igreja Cristã fendeu-se em grupos que proclamou excomunhão mútua e trocou acusações falsas. Esta situação continuou até o meio do vigésimo século. Ninguém então podia ter esperado ou imaginado que Sua Santidade o Papa, Supremo Líder da Igreja Católica Romana visitaria a Igreja Sirian Ortodoxa ou que o Patriarca Sirian de Antioquia visitaria o Vaticano, trocando saudações de paz e amor e assinariam uma declaração comum.
 
3. Estava em 1971 quando meu predecessor de memória abençoada Patriarca Mor Ignatius Jacob III visitou a Sua Santidade Papa Paulo VI de memória abençoada no Vaticano. Tive a honra de ser um dos bispos que acompanhou Sua Santidade. Era uma reunião histórica na Capela de Matilde onde os dois Pontífices Sagrados oraram juntos em latino assim como em aramaico. O Papa e o Patriarca fizeram falas significativas. Na sua declaração o Patriarca Sirian de Antioquia disse:
“Depois que 1520 anos de separação e excomunhões mútuas, ambas as Cabeças destas duas Igrejas bem antigas no Cristianismo encontram se como irmãos numa atmosfera de amor e fraternidade. Realmente o tempo cicatriza.”

E Sua Santidade o Papa em sua fala disse:
"Saudamos em Sua pessoa uma Igreja que vê na fé dos Apóstolos em Antioquia, as raízes e a base para nossa testemunha Cristã comum. Há nove anos, Sua Santidade aceitou o convite de nosso predecessor Papa João XXIII e enviou um representante ao segundo Conselho de Vaticano como Observador Oficial. Desde então a troca de correspondências e visitas por oficiais da nossa Igreja a Sua Santidade ajudaram a fortalecer as relações entre as nossas igrejas. Agora estou alegre em encontrá-lo pessoalmente e trocar pontos de vistas e desejos que vivifique-nos. Sua visita grandemente garante-nos que nossas duas igrejas encontrarão meios melhores e maneiras de cooperar um com o outro em nossa missão comum, e ao mesmo tempo abrirá o meio a plena comunhão que todos calorosamente sentimos saudades."
Na Declaração Comum o seguinte foi declarado:
"Progresso já tem sido feito e o Papa Paulo VI e o Patriarca Ignatius Jacob III estão de acordo que não há nenhuma diferença na fé que professam a respeito do mistério da Palavra de Deus Encarnado e torna-se realmente homem, mesmo que sobre as dificuldades de séculos surgiram outras expressões teológicas diferentes por que esta fé foi expressada. Eles portanto encorajam o clero e fiéis das suas Igrejas para se esforçarem em remover os obstáculos que ainda impedem a comunhão completa entre as Igrejas. Isto deve ser feito com amor, com franqueza aos lembretes do Espírito Sagrado, e com respeito mútuo um para o outro. Encorajo particularmente os acadêmicos das suas Igrejas, e de todas comunidades Cristãs, compreender mais profundamente o mistério de Cristo com humildade e fidelidade às tradições Apostólicas de modo que os frutos de suas reflexões possam ajudar a Igreja em seu serviço no mundo que o Filho Encarnado de Deus redimiu."
Sua Santidade,

Nesta ocasião, declaro que desde minha entronização como Patriarca pela Graça de Deus em 1980, segui nas pegadas de meus predecessores de memória abençoada em cooperar com outras Igrejas irmãs. Tenho esforçado para o bem do Cristianismo e para alcançar a unidade Cristã. Com este objetivo em mente eu troquei correspondências cordiais com Sua Santidade em várias ocasiões, e eu também visitei Sua Santidade no Vaticano em 1984. Durante aquela visita uma Declaração Comum foi feito por Sua Santidade e minha humilde pessoa no dia 23 de junho de 1984 em confirmação de nosso esforço de alcançar em conjunto um melhor entendimento e continuar externando esforços para atingir a meta sublime que é finalmente a Unidade Cristã. Narrarei algumas passagens da histórica Declaração abençoada, onde cita o seguinte:
"Nossa Unidade em fé, embora ainda não completa, intitula-nos a contemplar a colaboração entre as nossas Igrejas em cuidado pastoral, em situações que hoje em dia são freqüentes por causa da dispersão de nossos fiéis em todo o mundo e por causa das condições precárias nestes tempos difíceis. Não é raro, aliás, para nosso fiel achar acesso a um sacerdote de sua própria Igreja, isto não é material nem moralmente impossível. Ansioso para encontrar suas necessidades e com seu benefício espiritual em mente, nós autorizamos em tais casos pedir os sacramentos de Penitência, Eucaristia e Ungir do Doente de sacerdotes legais de qualquer um de nossas duas Igrejas irmãs, quando eles os necessitam. Seria um resultado lógico de colaboração em cuidado pastoral cooperar na formação e educação teológica. Os bispos são encorajados a promover e compartilhar de instalações para educação teológica onde eles julgam ser aconselháveis. Ao fazer isto nós não esquecemo-nos que nós ainda devemos fazer tudo que está em nosso poder para alcançar a plena comunhão visível entre a Igreja Católica e a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e incessantemente rogar ao Nosso Senhor para nos conceder a unidade que só nos capacitará dar ao mundo uma testemunha plenamente unânime do Evangelho.

Agradecer o Senhor que nos permitiu encontrar e apreciar a consolação da fé que nós seguramos em comum (cf. 1:12 De Rom) e proclamar antes do mundo o mistério do Verbo Encarnado e sua salvação, a fundação inquestionável dessa fé comum, nós prometemo-nos solenemente fazer tudo para remover as mentiras e os últimos obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre a Igreja Católica e a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, de modo que com coração e voz nós podemos pregar A palavra: "A Luz Verdadeira que esclarece cada homem" e "que todo quem acredita em Seu nome pode tornar-se crianças de Deus" (cf. Jn1:9-12)". (A citação acaba.)
A Declaração Comum é única verdadeiramente. Representou o avanço de grandes etapas do movimento ecumênico porque foi além de profissões doutrinais das duas igrejas, abraçou o cuidado pastoral do fiel em ambas igrejas. Os objetivos desta declaração foram implementados em muitas partes do mundo.

4. Nesta rara reunião histórica, nós temos o prazer em receber nossos irmãos, o Clero de todas denominações e os agradecemos pelas suas participações de boas vindas a Sua Santidade Papa João Paulo II. Temos que manter em mente que é o dever de todos nós estar plenamente ciente de nossa missão espiritual como clérigos, fornecer meios de salvação através de Nosso Senhor Jesus Cristo a todo o fiel de todas Igrejas e continuar orando e espalhando amor, que é o primeiro sinal dos discípulos verdadeiros de Jesus Cristo, em obediência aos ensinamentos do Senhor, "Saberão que você é meu discípulo, se você tiver o amor para com o outro" (Jn 13: 35).
Ao esforçarmos para atingir a Unidade Completa, nós temos que aceitar um ao outro. É nossa mensagem transportar a voz das pessoas a Deus e para a voz de Deus às pessoas.
É por pregar a direção religiosa que nós temos que advertir os pecadores e encoraja-los a obedecer às leis divinas.
Temos que carregar a cruz de nosso Senhor e segui-lo, como fez Sua Santidade Papa João Paulo II, quem nos põe o bom exemplo na sua plataforma corajosa contra infrações imorais praticado hoje em dia em algumas instituições que reivindicam representar o Cristianismo permitindo aborto e homossexualidade.
Nesta geração invadida por muitos conceitos corruptos, necessitamos de uma testemunha verdadeira, para encorajar os que estão mal a aderirem a nossa fé verdadeira em Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua lei divina.
Nós nunca podemos reivindicar ser Cristãos ao menos que aderimos a esta fé, porque Cristianismo Apostólico verdadeiro é a profissão verdadeira de fé e uma vida de virtudes.
Sua Santidade,

5. Diz o ditado que o Cristão de boa vontade vai a todas as Igrejas e denominações que reconhecem Deus Onipotente e Sua Santidade foi escolhida para ser Seu instrumento para espalhar paz, amor e fraternidade entre as pessoas e para confrontar todas divagações dos ensinamentos Cristãos no mundo.
O Deus Onipotente o concedeu tanto autoridade civil como religiosa, sendo o Papa de Roma e o Supremo Líder do Vaticano, o Estado pequeno no mundo, contudo o mais poderoso em Sua influência por todo o mundo em relação a construção de uma paz compreensiva e justa para confirmar a fé do homem em Deus Onipotente e confirmar as Suas virtudes e valores. Assim Sua Santidade tem se esforçado neste campo para o logro de tais metas, negligenciando as adversidades e fadiga suportada por pastores verdadeiros.
Suplico a Deus para conceder a Sua Santidade boa saúde e vida longa. Desejo a Sua Santidade uma agradável permanência na Síria e um retorno seguro em Sua viagem.
Estamos certos que Sua presença é uma afirmação de fraternidade Cristão-Muçulmano e Cristão-Cristão. Gostaria de afirmar que nós, como Cristãos usufruímos uma Unidade nacional, vivendo com nossos irmãos muçulmanos uma vida plena de amor e amizade pura.


6. Nesta ocasião, é de grande prazer a nós, saudar Sua Excelência o Presidente Bashar Al-Assad e orar a Deus para abençoá-lo a manter as bandeiras da vitória seguradas em nosso país sob sua sábia liderança. Amém.